Poucas empresas possuem um catálogo tão respeitável quanto a Konami e entre os muitos clássicos que ela lançou ao longo dos anos, vários pertence à franquia Castlevania. Sabendo o enorme apelo que ela ainda possui e querendo aproveitar o lançamento da segunda temporada da série produzida pela Netflix, a empresa japonesa decidiu explorar dois títulos que marcaram época e assim chegou ao PlayStation 4 o Castlevania Requiem: Symphony of the Night and Rondo of Blood.
Com as histórias dos dois jogos estando diretamente conectadas, no Rondo of Blood acompanharemos Richter Belmont em uma aventura para resgatar a sua amada Annette das garras do Conde Dracula, enquanto no Symphony of the Night assumiremos o papel de Alucard, filho do vampiro cujo objetivo também será destruí-lo.
Entre os dois o Symphony of the Night sem dúvida é o mais conhecido, mesmo porque o seu antecessor apareceu originalmente apenas no PC Engine — a versão japonesa do console que por aqui ficou conhecido como TurboGrafx-16. Mesmo com o jogo tendo sido refeito depois para o Super Nintendo e aparecido como Castlevania: Dracula X, existia muitas diferenças entre as versões, como a direção artística, a falta de cenas não-interativas e mesmo na construção dos estágios.
No caso do Rondo of Blood o que poderá assustar os jogadores mais novos ou que não jogam um Castlevania mais tradicional há muito tempo é o seu alto nível de dificuldade. Com os inimigos nos causando muito dano e sem uma fartura de itens para recuperar a nossa energia, morrer será uma constante e como ele segue o estilo mais linear dos jogos mais antigos da série, é bom se preparar para ter que refazer um mesmo trecho diversas vezes.
O Symphony of the Night por sua vez é um esplendor quando se trata da jogabilidade. Ao adotar elementos de exploração e RPGs, o título conseguiu se transformar num divisor de águas para a franquia, sendo desafiador de uma maneira diferente e mostrando-se extremamente viciante. Tentar descobrir cada segredo do castelo do Dracula continua sendo algo muito divertido, especialmente se quisermos conhecer a sua versão invertida e encontrar tudo o que o jogo tem a oferecer.
Uma adaptação correta, mas preguiçosa
Baseado no Castlevania: The Dracula X Chronicles que foi lançado para o PSP em 2007, a escolha da Konami resultou em mais pontos fracos do que fortes. Para começar, o Symphony of the Night conta com uma localização bem diferente do que temos no original lançado para o PlayStation ou mesmo na versão que apareceu no Xbox 360 naquele mesmo ano. Isso significa uma dublagem mais profissional, mas também algumas mudanças no texto. Lembra do célebre diálogo logo no início em que o Dracula fala “What is a man? A miserable little pile of secrets”? Pois ele não estará presente aqui.
Além disso, essa coletânea para o PlayStation 4 infelizmente não traz o remake 2.5D do Rondo of Blood e embora eu prefira os gráficos originais, seria muito bom ter esta versão, nem que ela tivesse que ser desbloqueada após realizarmos alguns passos.
Isso no entanto não significa que os jogos não contem com novidades, mas é preciso reconhecer que elas são muito pequenas. Um exemplo é a saída de som pelo controle quando pegamos itens ou mesmo a função do gamepad vibrar de acordo com o que estiver acontecendo na tela. Tais recursos ajudam a melhorar a experiência, mas não dá para dizer que são grandes diferenciais.
A Konami ainda tratou de garantir que ambos os jogos rodassem numa resolução de até 4K, mas estamos falando de gráficos em pixels e particularmente não consegui ver diferença no Symphony of the Night rodando no PlayStation 4 ou no Xbox 360. Some a isso a possibilidade de escolhermos a moldura da tela, de adicionarmos filtros para imitar uma TV CRT ou deixar os pixels “mais bonitos” e no fim das contas, o destaque vai mesmo para a opção de jogarmos com dublagem em inglês ou japonês, assim como os troféus.
Cadê o museu, Konami?
No entanto, o que realmente senti falta no Castlevania Requiem: Symphony of the Night and Rondo of Blood foi de um modo museu. Ao contrário do que a Capcom tem feito nas suas coletâneas, a Konami não se deu ao trabalho de incluir algumas informações para os fãs, como uma galeria de artes conceituais, informações sobre as produções, entrevistas com os desenvolvedores ou mesmo um lugar para ouvirmos as músicas dos jogos — o que no caso de trilhas sonoros com tanta qualidade, é quase um crime.
Como grande fã da franquia, seria muito legar poder conhecer detalhes sobre como esses dois ótimos jogos foram feitos, poder relembrar comerciais ou ver alguns dos profissionais envolvidos nas suas criações falando sobre dificuldades e escolhas que foram feitas. Eu sei que muitas pessoas não se importam com esse tipo de material adicional, mas acredito que ele serviria para mostrar que houve um cuidado maior com o desenvolvimento do pacote, mas pelo jeito não é assim que o pessoal da Konami pensa.
A exagerada confiança no saudosismo
Mesmo não restando dúvidas de que a Konami poderia ter se empenhado mais ao criar o Castlevania Requiem: Symphony of the Night and Rondo of Blood, os jogos que esta coletânea trazem são tão espetaculares, que conseguem ofuscar qualquer problema que ela tenha. Talvez a empresa tenha se escorado justamente nisso e na paixão dos fãs para economizar na produção, o que de forma alguma pode ser comemorado, mas a verdade é que tanto o Symphony of the Night quanto o Rondo of Blood são tão bons e envelheceram tão bem, que fica difícil não recomendar o pacote.
A torcida agora é para que a detentora da marca pegue gosto pela coisa e relance vários outros Castlevania, em especial aqueles que ficaram exclusivos para os portáteis. No entanto, seria bom se a empresa se esforçasse um pouco mais e nos entregasse algo além de “apenas” boas adaptações, pois o saudosismo dos fãs certamente merece muito mais.